Século XX

1901- 09

Theodore Roosevelt assume a Presidência dos Estados Unidos. Foi ele quem deu nome à Big Stick Policy (Política do Porrete), referente às intervenções norte-americanas na América Central. Essa política, praticada desde fins do século XIX, teve seu ponto alto em 1898: a guerra entre EUA e Espanha, que resultou na independência de Cuba, sob hegemonia norte-americana (assegurada pela Emenda Platt, imposta pelos EUA à Constituição Cubana).

1902

Fim da Guerra dos Bôeres (1899-1902), na África do Sul. Vitória dos britânicos sobre os bôeres (descendentes de holandeses) estabelecidos nas repúblicas independentes do Transvaal e de Orange. Desmistificação do argumento do “Fardo do Homem Branco”, usado como justificativa para o neocolonialismo.

1903

O Panamá proclama sua independência em relação à Colômbia, com o apoio dos EUA (Política do “Big Stick”). Em troca, o recém-instalado governo panamenho autoriza os norte-americanos a construir o Canal do Panamá, com direitos de extraterritorialidade. O canal ficará pronto em 1914.

O Partido Social-Democrata Russo (clandestino, devido ao regime autocrático – absolutista – vigente na Rússia) cinde-se em duas facções: bolcheviques (“bolshinstvo” = maioria), revolucionários marxistas radicais, liderados por Lenin, e mencheviques (“menshinstvo” = minoria), moderados, contrários à ação violenta.

1904-05

Guerra Russo-Japonesa, disputando influência sobre a Manchúria (pertencente à China). Derrotada, a Rússia cede ao Japão algumas ilhas no Extremo Oriente. Os japoneses, que já dominavam a Coréia, obtêm concessões de mineração na Manchúria.

1904

Entente Cordiale (Entendimento Cordial). Preocupada com a política militarista e expansionista do Kaiser (imperador da Alemanha) Guilherme II, a Grã-Bretanha firma com a França uma aliança conhecida como Entente Cordiale.

Cartaz de convocação para a guerra
Cartaz de convocação para a guerra, apelando para o patriotismo francês.

1905

Revolução de 1905 na Rússia (“Ensaio Geral para 1917”). Abalado pelo curso desfavorável da Guerra Russo-Japonesa, o governo do czar Nicolau II enfrenta graves manifestações de descontentamento interno: o “Domingo Sangrento” de São Petersburgo, a revolta do couraçado “Potemkin” e greves de trabalhadores fabris. Formam-se os primeiros sovietes (conselhos) de operários.

"Domingo Sangrento" de São Petersburgo
“Domingo Sangrento” de São Petersburgo. Em janeiro de 1905, a manifestação de operários que reivindicava aumento de salários é dispersada a bala pela Guarda Imperial.

Primeira Crise do Marrocos. Diante das pretensões francesas sobre o Marrocos, o Kaiser Guilherme II, a bordo de um dos novos navios de guerra alemães, viaja para aquele país africano e declara que a Alemanha apóia a independência marroquina. No ano seguinte, porém, uma conferência internacional permite à França estabelecer seu protetorado sobre o Marrocos – uma parte do qual fica sob controle da Espanha.

1906

Instalação da Duma. A instabilidade provocada pela Revolução de 1905 leva o czar Nicolau II a criar a Duma – uma assembléia legislativa com poderes fortemente restringidos e pouca representatividade, já que era eleita censitariamente (nobreza e burguesia, juntas, constituíam apenas 2% da população russa).

Fundação do Partido Trabalhista na Inglaterra. De orientação social-democrata, tornar-se-á a segunda força política do Reino Unido, em oposição ao Partido Conservador e em detrimento do Partido Liberal.

1907

Surgimento da Tríplice Entente. A Rússia se une à “Entente Cordiale” formada pela Grã-Bretanha e França, criando um bloco de oposição à Tríplice Aliança (constituída em 1882 pela Alemanha, Áustria-Hungria e Itália).

Países balcânicos
Países balcânicos às vésperas da I Guerra Mundial

Com o término da I Guerra Mundial, a Bósnia- Herzegovina (até então pertencente à Áustria-Hungria) foi anexada à Sérvia, assim como o Montenegro. A Bulgária perdeu sua saída para o Egeu (tomada pela Grécia) e a Romênia expandiu-se às expensas da Hungria e da Bulgária.

1908

Conferência Internacional da Paz em Haia, na qual se destaca o brasileiro Rui Barbosa. Não se chega a nenhum acordo prático sobre como criar um mecanismo que evite conflitos bélicos.

1910

Início da Revolução Mexicana. Dirigido contra a longa ditadura do general Porfirio Díaz (“Porfiriato”, 1876-1911), o movimento reúne intelectuais liberais, classe média urbana, operários e grandes contingentes de camponeses, liderados no Sul pelo sem-terra Emiliano Zapata e no Norte pelo pequeno proprietário Pancho Villa.

A África do Sul deixa de ser área colonial britânica e recebe o status de Dominion: torna-se um Estado soberano dentro da Commonwealth (Comunidade Britânica), mantendo a forma de governo monárquica e o rei da Inglaterra como chefe de Estado (função apenas formal). Canadá (1867), Austrália (1901) e Nova Zelândia (1907) já eram Dominions. A Terra Nova foi Dominion de 1917 a 1934, mas hoje faz parte do Canadá.

O estudante bósnio cristão Gavrilo Prinzip fere mortalmente o arquiduque Francisco Fernando e sua esposa
O estudante bósnio cristão Gavrilo Prinzip fere mortalmente o arquiduque Francisco Fernando e sua esposa, quando visitavam Sarajevo, capital da Bósnia-Herzegovina.

1911

Segunda Crise do Marrocos. A Alemanha envia um navio de guerra ao porto marroquino de Agadir (controlado pela França), provocando uma crise internacional. Ao final, a belonave alemã retira-se de Agadir.

Plano de Ayala, formulado por Emiliano Zapata. Principais reivindicações: recuperação imediata das terras expropriadas aos camponeses durante o Porfiriato; redistribuição de 1/3 das terras dos latifúndios, sem indenização; confisco da totalidade das propriedades dos que se opuserem ao Plano de Ayala. Algumas partes deste, amenizadas, foram implantadas mais tarde.

1911-13

Primeira e Segunda Guerras Balcânicas, envolvendo Sérvia, Montenegro, Grécia, Romênia, Bulgária e Império Otomano (Turquia). Este perde territórios para todos os demais Estados (exceto Montenegro), ficando reduzido, na Europa, à faixa próxima aos estreitos do Bósforo e dos Dardanelos. A Albânia emancipa-se da Turquia, mas o território de Kossovo (com população majoritariamente albanesa) é incorporado à Sérvia.

1912

O Império Chinês torna-se República, sob a presidência de Sun Yat-sen, fundador do Kuomintang (Partido do Povo). A China inicia um processo de modernização.

Com a irrupção da Primeira Guerra Mundial, encerra-se a Belle Epoque (1871-1914), período da história européia caracterizado pela ausência de guerras entre as grandes potências e pelo predomínio político de burguesia – então em fase de acentuada prosperidade e para quem a questão operária parecia estar razoavelmente controlada. A expressão Belle Epoque foi criada após a I Guerra Mundial, como resultado da comparação entre os novos tempos e o período anterior, feita pela óptica burguesa

1914

Assassinato do arquiduque Francisco Fernando de Habsburgo, herdeiro do trono austro-húngaro, na cidade de Sarajevo (capital da Bósnia), por um estudante bósnio de religião cristã ortodoxa, partidário da anexação da Bósnia-Herzegovina à Sérvia (a maioria dos bósnios, muçulmana, não era favorável a essa união). Tomando o assassinato como pretexto, a Áustria-Hungria declara guerra à Sérvia, cujo projeto de formar uma “Grande Sérvia” ameaçava a integridade do Império Austro-Húngaro.

Em rápida sucessão, entram no conflito a Rússia (protetora da Sérvia), Alemanha, França, Bélgica (invadida pelos alemães, que pretendiam alcançar o território francês através dela) e Grã-Bretanha. A Itália permanece neutra até 1915, quando rompe a Tríplice Aliança e se engaja na guerra ao lado da Entente; a esta também se juntam o Montenegro, a Romênia, a Grécia e Portugal. O Japão, interessado em alguns arquipélagos alemães no Pacífico, igualmente declara guerra à Alemanha. O Império Otomano e a Bulgária unem-se à Alemanha e Áustria-Hungria, constituindo o bloco dos Impérios Centrais. A Tríplice Entente e os países que lutam a seu favor passam a ser conhecidos pelo nome de Aliados.

Trotsky (à esquerda) e Stalin
Trotsky (à esquerda) e Stalin, importantes personagens da Revolução Russa, disputaram o poder após a morte de Lenin, não apenas atendendo a ambições pessoais, mas também em nome de diferentes interpretações da teoria marxista.

1914-17

“Guerra de trincheiras” na Frente Ocidental (alemães contra franceses, britânicos e belgas). Relativa estabilização da linha de batalha, com ambos os lados efetuando ataques pouco produtivos em ganhos de terreno, mas extremamente pesados quanto às baixas sofridas. Na Frente Oriental (alemães e austro-húngaros contra russos), os Impérios Centrais dominam os Bálcãs e impõem graves reveses ao exército czarista.

Lenin
Lenin, ideólogo marxista e líder dos bolcheviques, foi o chefe incontestável da Revolução Socialista na Rússia e criador da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas.

1916

Batalha da Jutlândia. Grande choque naval entre as esquadras britânica e alemã, ao largo da costa dinamarquesa, com resultado indeciso. Único engajamento significativo da frota de superfície alemã durante toda a guerra.

1917

Guerra submarina alemã (janeiro). O governo alemão anuncia que serão torpedeados quaisquer navios encontrados nas zonas de guerra, inclusive neutros e barcos de passageiros.– Constituição Mexicana (fevereiro): proibição dos latifúndios, reforma agrária parcial, restabelecimento dos “ejidos” (terras comunais indígenas) e direitos trabalhistas para o proletariado urbano.

Revolução Russa, 1ª fase (março). Queda do czar Nicolau II, proclamação da República e formação de um governo provisório liberal burguês, chefiado pelo príncipe Lvov. Anistia política e consequente retorno, para a Rússia Européia, de milhares de presos ou exilados bolcheviques – entre os quais Lenin, Trotsky e Stalin.

Declaração de guerra dos EUA aos Impérios Centrais (abril), sob o pretexto de que submarinos alemães haviam torpedeado navios norte-americanos.

Tentativa de golpe bolchevique (julho). O príncipe Lvov é substituído pelo advogado Kerensky, que insiste em manter a Rússia na guerra, contra o desejo popular. Os sovietes de operários, soldados e camponeses exigem “Paz, Pão e Terra”.

Revolução Russa, 2ª fase (novembro). Golpe de Estado bolchevique: queda de Kerensky e ascensão de Lenin ao poder, instaurando uma ditadura.

Declaração Balfour (novembro). O governo britânico anuncia ser favorável à criação de um Estado Judeu na Palestina (então em poder do Império Otomano).

1918

Os 14 Pontos (janeiro). O presidente norte-americano Wilson divulga seus “Quatorze Pontos para uma Paz Justa”, que passam a ser o programa de paz semi-oficial dos Aliados até ao final da guerra.

Tratado de Brest-Litovsk (março). O governo bolchevique assina uma paz em separado com a Alemanha, abrindo mão da Finlândia, Estônia, Letônia, Lituânia, Polônia e Ucrânia Ocidental (com exceção desta última, que a Rússia retomou em 1920, as demais tornaram-se independentes ao final da I Guerra Mundial). Com o encerramento da Frente Oriental, os alemães realizam uma ofensiva maciça na Frente Ocidental; mas a chegada dos norte-americanos (desde fevereiro) permite aos Aliados contra-atacar.

Capitulação da Bulgária (setembro), do Império Otomano (outubro) e da Áustria (3 de novembro, depois que checoslovacos, húngaros e eslavos do sul já haviam declarado suas respectivas independências).

A Alemanha assina o armistício com os Aliados (11 de novembro), depois de uma revolução conduzida por social-democratas (socialistas) e comunistas ter proclamado a República no dia 9. Os Aliados impõem condições bastante duras para aceitar a cessação de fogo.

1918-21

Guerra Civil na Rússia entre o Exército Vermelho (organizado por Trotsky) e os Brancos (contra-revolucionários de diversas tendências, apoiados inicialmente pelo desembarque de tropas anglo-franco-norte-americanas e japonesas), com a vitória final dos Vermelhos. Durante o conflito, a Rússia vive sob o “comunismo de guerra” (socialização radical).

1919

O Exército Alemão esmaga em Berlim a Revolução Espartaquista (comunista) liderada por Rosa Luxemburg, que é assassinada. Na cidade de Weimar é promulgada uma Constituição que organiza a República Alemã dentro de um sistema parlamentarista e inclui direitos sociais.

Conferência de Paz de Paris, reunindo todos os beligerantes, exceto a Rússia (a Itália, insatisfeita em suas pretensões coloniais, retira-se da conferência antes de seu término). Em junho, os “Três Grandes” (EUA, Grã-Bretanha e França) impõem à Alemanha o Tratado de Versalhes, contendo pesadas cláusulas territoriais, militares e financeiras (origem do revanchismo alemão). Nos meses subsequentes, outros tratados são impostos à Áustria, Bulgária e Hungria. Esses tratados criam graves problemas para o futuro, pois colocam várias minorias étnicas (sobretudo alemãs) dentro das fronteiras de alguns dos novos Estados surgidos na Europa (Polônia, Checoslováquia e Iugoslávia).

1920

Tratado de Sèvres, imposto ao Império Otomano. Este é despojado de todos os territórios árabes que dominava e fica reduzido a sua porção estritamente turca.

A Síria e o Líbano são colocados sob domínio francês. A Grã-Bretanha controla a Transjordânia e a Palestina (onde aumenta a imigração de judeus, gerando conflitos com a população árabe local). A Arábia constitui um Estado independente, mas os britânicos mantêm seu protetorado sobre numerosos emirados e sultanatos nos litorais do Golfo Pérsico e do Mar da Arábia. Também o Iraque, embora formalmente um reino independente, é colocado sob influência britânica.

Instalação da Liga das Nações (uma das poucas concretizações dos 14 Pontos de Wilson) em Genebra. Não participam os EUA (posição insolacionista), além da Alemanha e Rússia (não convidadas). A ineficácia da Liga se agrava devido à falta de poder militar. Obs.: A Alemanha ingressará na Liga em 1926 e a URSS, em 1934.

As nações surgidas no Pós-Primeira Guerra Mundial
As nações surgidas no Pós-Primeira Guerra Mundial